Olá!
Esse é meu primeiro post. O primeiro de muitos com certeza!
Bom, como esse é o primeiro post eu quero me apresentar. Em primeiro lugar meu nome verdadeiro não é Fiona, é um nome fictício que adotei. Porquê? Para preservar a minha identidade, a minha vida. Afinal, quem sofre de transtorno alimentar sabe o quanto sofremos com isso e o quanto temos vergonha também... Não é?! E também não quero e nem acho necessário todo mundo ficar sabendo que eu sofro disso, exceto os mais próximos, lógico. Mas tudo que eu escrever aqui vai ser 100% verdadeiro, isso eu "agarantchio" (como diria "seu Creysson" do Casseta e Planeta)!
Então vamos lá! Meu nome é "Fiona", tenho 24 anos, sou casada há mais de 2 anos, não tenho filhos, faço faculdade e trabalho.
Há anos que venho lutando contra a compulsão alimentar, ou bulimia... Confesso que não sei bem ao certo o que tenho exatamente. Acho que é uma mistura dos dois. Porque consigo ficar a semana inteira sem ter nenhum episódio de compulsão alimentar, porém no final de semana sempre acontece... Parece que como é final de semana e eu tenho dois dias para descansar, relaxo de vez e como tudo que vejo pela frente. E claro, logo em seguida dieta restrita e muuuuuuitas horas de exercícios aeróbicos e às vezes alguns remédios para ajudar na queima de gordura... Normal. Porém induzir o vômito não. Não tenho coragem, embora muitas vezes tivesse vontade. Já tentei e apenas 2 vezes nesses 10 anos que sofro de compulsão alimentar eu fiz isso. E foi horrível. Normalmente eu como compulsivamente e no dia seguinte fico a base apenas de proteína, água, algum termogênico (queimadores de gordura que estão na moda) e muuuuuuitas horas em cima da bicicleta ergométrica, até meus joelhos gritarem de dor. Sim... Desgaste físico ao extremo. Mas ameniza bastante o estrago.
Como tudo começou? Não lembro ao certo... Sempre tive uma vida saudável. Minha mãe sempre cuidou muito bem da minha alimentação. Muitos sucos, frutas, legumes, verduras, "comida de verdade" (feijão, arroz, carne, massa, etc. não esses congelados e faast food que vemos por aí). E a minha mãe era assim, se eu queria comer uma bolachinha recheada eu tinha que pedir para ela, esperar ela aprovar e ela mesmo pegava o pacote e separava a porção certinha que eu podia comer, e sempre com uma fruta ou um suco junto. Nunca comia só bolacha, eram quatro bolachinhas mais um suco por exemplo. Então culpa da minha mãe não é com certeza! Kkkkkkkk
Acredito que tudo começou depois de uma decepção amorosa que tive com 13 anos (primeiro amor) e tive depressão. Lembro que fiquei 2 meses sem ir a aula. Fiquei só dentro de casa, comendo e dormindo. Não queria fazer nada. Nem sair de casa eu saía. Queria me isolar do mundo mesmo. Até que minha mãe procurou ajuda e comecei a fazer terapia, e foi muito bom para mim. Superei a depressão e melhorei horrores. Porém eu engordei muito com a depressão, cheguei a pesar 90kg (tenho 1,76m)e resolvi fazer uma dieta radical. Fiz a famosa "dieta dos pontos". Emagreci 20kg em 5 meses. Foi uma mudança e tanto! Na época para mim foi fácil fazer a dieta, pois eu estava muito determinada, o meu maior objetivo era ser magra. E nada nem ninguém ia me tirar do meu foco. Até que chegou a Páscoa. A primeira Páscoa depois de magra. E foi ali que tudo começou... Lembro que devorei horrores de chocolate. Barras de chocolate, bombons, tudo numa tacada só. Meus pais ficaram apavorados. E eu também! Porque me vi completamente sem controle. Eu não queria parar de comer. Mesmo estando enjoada com tanto chocolate. Mesmo sentindo que iria vomitar se continuasse a comer mais. Eu não queria parar de comer. Eu queria mais e mais chocolate. Queria comer tudo até acabar. Se tivesse 2kg de chocolate eu comeria os 2kg de chocolate, se tivesse 3kg, comeria tudo também. E no dia seguinte me vendo totalmente inchada e me sentindo mal de tanto chocolate que comi, o que fiz? Passei o dia a sopa de verduras e legumes. Eu fiz 2 horas de caminhada e ainda dancei umas dmúsicas bem louca dentro de casa. Qualquer movimento que gastasse calorias.
Essa foto representa bem como eu sou nos momentos de compulsão... Mudar isso né?!
E desde então convivo com isso. Tem fases que estou bem e me sinto a pessoa mais segura do mundo. Acordo me achando a "super-mulher" e que conseguirei enfrentar tudo e todos hoje. E de fato isso acontece! Mas tem dias que acordo e qualquer coisa que me desafie ou me deixe insugura, eu desmorono e "chuto o balde". E chutar o balde é o quê? Comer, lógico! Na verdade qualquer coisa que me tire da minha zona de conforto já é motivo para eu querer comer. Eu sou muito ansiosa, ao extremo. Me cobro muito e sou muito perfeccionista. Então basta uma coisinha de nada sair do que está planejado que eu fico insegura e não sei como lidar com isso. E é aí que vem a ansiedade, e pra acalmar a ansiedade uso o quê? Comida. Só que eu sei perfeitamente que comer não ajuda em nada, pelo contrário, piora mais ainda a situação. Porque na hora é bom e de fato me sinto melhor. Parece que com a comida posso tudo e não tenho limite. Parece que quando estou comendo estou dominando o mundo! "Eu posso tudo!". É estranho... É uma sensação muito boa. De conforto, paz, bem estar... Na hora só! Porque depois vem o pesadelo. Me sinto mal, triste com raiva e ódio de mim mesma. Fico me culpando e com vontade de bater a cabeça na parede. Dizendo para mim mesma o quanto sou burra e fraca por ter comido tanta porcaria de uma vez só. Por me auto-torturar. Porque agora tendo comido cerca de 3.000 calorias numa tacada só vou ter quer fazer horas e horas de exercício e apertar bastante a dieta nos próximos dias para compensar. E assim é sempre. É um ciclo. E o pior de tudo é que na hora em que eu tô comendo me passa de tudo pela cabeça. Penso no esforço que fiz nos últimos dias com dieta e treino, lembro que eu quero ficar magra e "sarada", lembro no quanto eu quero me livrar desse mal, lembro que vou ficar triste e chateada depois de comer um monte, lembro de tudo isso! E mesmo assim como. É estranho... Porque me passa tudo isso na cabeça, eu sei bem o que vai acontecer e mesmo assim como! A vontade de comer é muito mais forte do que tudo isso que passa na minha cabeça. É como um "dane-se tudo isso porque eu quero é comer". É bem isso. E assim tem sido sempre. Nos últimos 10 anos.
Por isso, depois de tantos anos convivendo com isso finalmente tomei uma decisão. Procurei um tratamento completo direcionado para esse tipo de problema. Com terapia, nutrição e psiquiatra. Comecei ontem. Ontem foi a minha primeira sessão com a terapeuta. Despejei muita coisa na primeira sessão... Nossa. Ela deve ter ficado zonza! Em 45min contei toda a minha vida desde que tenho 11 anos de idade... Até eu fiquei zonza! Me perdi algumas vezes, não sabia se tal fato tinha acontecido antes ou depois de tal e tal fato... Nossa! Percebo que estou ficando velha mesmo. Quando a gente começa a se perder na nossa própria história é porque já temos muitos anos de vida para contar né..?! Bom, mas voltando, ontem foi a primeira sessão e foi só para termos um primeiro contato e nos conhecermos. E gostei muito da terapeuta. Direta, firme, objetiva. Porque tem muita gente que acha que terapeuta só está ali para nos ouvir. Não mesmo! Terapeuta tem que participar, perguntar, questionar. Tem que ser como uma conversa entre amigos, a diferença é que ali você não está sendo julgado nem criticado, mas sim, sendo aconselhado por um profissional que estudou para isso. E confesso que estou bem confiante e otimista.
Eu quero muito mudar. Muito mesmo. Preciso mudar. Porque até então a compulsão alimentar era um problema que afetava somente a mim. Mas hoje sendo uma mulher adulta, casada, profissional e que pretende ser mãe... Esse problema não é mais só meu. Está afetando meu casamento, meu trabalho e também meus planos de ser mãe.
Meu marido sabe do meu problema e tentou me ajudar de várias formas. Mas o maior problema é que eu tenho muita vergonha disso, então é muito difícil pra mim falar sobre isso. Muito mesmo, morro de vergonha porque me sinto a pessoa mais ridícula do mundo quando digo que não consigo controlar a vontade de comer. Perder para a comida...?! Brincadeira né?! Mas... Não é culpa minha, é um transtorno, um problema, mas mesmo assim... Tenho vergonha, muita vergonha de pedir ajuda pra ele. E o pior é quando tenho que mentir e dizer que está tudo bem quando na realidade não está nada bem! Muitas vezes comi horrores fora de casa ou escondida dentro de casa mesmo e menti para ele dizendo que não tinha comido nada. Me sinto muito mal. Me sinto a pior pessoa do mundo! Mas é que não quero decepcionar ele e nem deixar ele preocupado. Aí eu minto... Só que ele sabe quando eu não tô legal, mas como eu fico muito mal quando ele me pressiona perguntando se realmente está tudo bem ele acaba fingindo que acreditou... Outra coisa que está nos afetando é falta de sexo. Sim... Porque quando tenho essas crises compulsivas eu me sinto mal e super inchada e gorda. Me sinto a mulher mais baranga do mundo e tenho vergonha de ficar pelada na frente dele. Acho que ele vai ficar olhando as minhas celulites, barriguinha, minhas pernas gordas, enfim... Não tenho coragem nenhuma de ficar pelada na frente dele e muito menos fazer algo. É complicado... E o nosso sexo é super gostoso (rsrsrsrsrs), gosto muito de fazer amor com ele mas... Do jeito como estou quando fico inchada não. Fico muito mais preocupada com ângulos que me favorecem do que curtir de verdade o nosso sexo... E ele nota isso. Ás vezes ele vem me dar um abraço mais apertado e coloca a mão na barriga eu logo tiro porque não quero que ele sinta que ganhei umas gordurinhas ali... É foda...
E no meu trabalho também acaba me prejudicando. Já perdi a conta de quantas vezes faltei ao trabalho porque havia comido demais no dia anterior e acordei me sentindo gorda e feia. E deixei de ir trabalhar por medo de que as pessoas fossem reparar que eu estava mais gorda, que fosse comentar ou rir de mim. Talvez nem notassem nada mas... A minha preocupação com a minha aparência é tanta que chega a esse ponto.
Nossa gente... Por hoje chega né? Escrevi demais! E olha que ainda faltou muita coisa, mas o principal eu contei pra vocês.
Espero que com esse blog eu tenha mais forças pra vencer essa batalha. Conto muito com a ajuda de vocês e espero também poder contribuir com vocês!
Um super beijo e até o próximo post!
